Cruz das Almas: Sertão eterno campeão Cruzalmense

O dia 13 de maio de 2006 marcou o início da decadência de Valdemir Pereira, o Sertão, quarto campeão mundial da história do boxe brasileiro. Há exatos quatro anos, o baiano perdeu seu cinturão dos penas, e nunca mais subiu em um ringue. Ele voltaria no ano seguinte a lutar, em eliminatória para retomar o trono, mas exames médicos e uma doença da qual até hoje não fala deram fim ao sonho e à vida como pugilista.
Longe dos holofotes, Sertão hoje vive de forma humilde na simples cidade de Cruz das Almas, situada a duas horas ao Oeste de Salvador. Trocou as luvas pelas chuteiras, o ringue por uma mesa de dominó e as ricas bolsas que esperava ganhar com mais frequência por uma aposentadoria mensal pelo INSS, devido à sua condição.
Sertão foi campeão do mundo em janeiro de 2006, ao vencer o tailandês Fahprakorb Rakkiatgym por pontos, nos EUA. A festa, no entanto, durou pouco. Menos de quatro meses depois, cedeu o título para o norte-americano Eric Aiken, ao ser desclassificado por dar golpes baixos no desafiante.
O nocaute sofrido em sua vida veio quando teria nova chance contra Aiken, em março de 2007. Já nos Estados Unidos, um exame anunciado pelos organizadores como “inconclusivo” o impediu de lutar. Na volta ao Brasil, dizendo-se abandonado, preferiu voltar à cidade do Recôncavo Baiano, ao conforto da casa dos pais, e deixou tudo para trás. Inclusive dois filhos em São Paulo, dos quais nem ao menos se despediu.
Sertão não fala de sua doença, despista. Em entrevista ao jornal Lance em 2008, disse que teve hepatite C, doença infecciosa, e negou ter Aids. Agora, não dá nome ao seu mal, mas culpa a vida pós-título pelo que lhe aconteceu.
“Sempre fui um cara caseiro, mas comecei a entrar na farra e, você sabe, esse negócio de fama, dinheiro e mulher... Eu perdi o foco por causa disso aí”, conta Sertão, na casa de sua mãe, que guarda alguns de seus prêmios no boxe. “Tinha mulher em casa, em São Paulo, mas outras quatro na rua. Não era de beber e usar droga. A minha droga forte era mulher. Elas mexem com a cabeça do cara. E, quando fui tirado da luta (contra o Aiken), foi um desastre.”
O cruz-almense não esconde o medo do preconceito, ainda mais morando em uma cidade de cerca de 60 mil habitantes, onde os assuntos correm rapidamente.
“Não gosto de comentar (a doença), porque as pessoas só gostam de criticar. Gosto de levantar a cabeça e ter forças, como aquele jogador de basquete, Magic Johnson [jogador que se afastou da NBA com Aids, mas voltou a jogar]. Tem muita gente que tem doença pior que a minha”, lembra ele.
O ex-pugilista aproveita um pouco da lembrança de seu feito, que expôs Cruz das Almas como a “Cuba brasileira”, pelo potencial de seus lutadores.
Ele chegou a dar aulas de boxe em um ginásio local, mas a prefeitura preferiu afastá-lo das atribuições, também sem fazer referência à doença do ex-lutador.
“Hoje não vivo de nada. Às vezes vêm três ou quatro pessoas para quem eu dou aula particular e me dão uns 20 reais por mês. Infelizmente no Brasil as pessoas só se lembram de você depois que você está morto”, lamenta ele, que mesmo com a reclamação é parado pelas crianças na rua, que querem ser “como o Sertão”. "Quando vejo esses meninos dando soco pela rua, digo que eles vão ser melhores que eu".
O lar do baiano é um mar de lembranças da carreira no boxe. Cartazes como o da luta pelo título, fotos com amigos como Popó e troféus estão expostos. Em destaque, logo acima da TV, os cinturões: um latino, da AMB, e o que mudou sua carreira para o bem e para o mal, o mundial da FIB.
“Meu dia é não ficar muito em casa, porque fico muito triste, olhando para as minhas fotos”, diz o baiano, calçando chuteiras e meiões.
“Sempre que passa luta eu me emociono, porque me vejo no ringue lutando. Mas fazer o quê? Fico me perguntando, por que comigo? Mas pode acontecer com qualquer pessoa, a vida é assim mesmo”, filosofa, sem mostrar abatimento apesar das duras palavras.
A maior tristeza é quando fala sobre o que deixou para trás, os filhos Cássio e Laura, de quem não se despediu em São Paulo e nunca mais viu. Ele tem um terceiro filho, Kelso, em Cruz das Almas.
“Mas para mim não tem sido complicado, não. Tem doença que está matando. Outros estão matando para sustentar o vício das drogas. E eu não, estou aqui tomando meus remédios, e pronto. Sigo com minha vida, sou um cara alegre, feliz. Mesmo se não quiserem, eu faço parte do boxe. Esse nome Sertão, campeão do mundo, ninguém nunca vai tirar", conclui Valdemir, antes de montar na bicicleta para voltar a jogar bola e retomar sua pacata e quase anônima vida em Cruz das Almas.

"Sertão eterno campeão mundial"


"A força de vontade deve ser mais forte do que a habilidade."
Muhammad Ali

Um comentário:

  1. conheci essi muleki quando mora perto de minha casa essi muleki é totalmente do bem batalhador eu tambem mi pergunto porque essi disacerto sertão vc ainda é um exeplo de deginidade pra todos fica com DEUS meu irmão que DEUS te abeçoe ass:um reconhecedor da tua garra.

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